Introdução
Muito antes de os meridianos serem sistematizados como os doze canais principais da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), já existiam registros de trajetos energéticos utilizados em práticas como a moxabustão. Esses caminhos rudimentares — os chamados “vasos” — foram observados empiricamente, especialmente quando a aplicação de calor provocava sensações que se propagavam por áreas específicas do corpo. Neste artigo, vamos explorar como esses primeiros registros evoluíram para a complexa teoria dos canais energéticos que hoje conhecemos como meridianos.
📜 Origens: Os Vasos e os Primeiros Textos em Seda
Os textos conhecidos como Cânone de Cauterização dos Onze Vasos do Pé e Antebraço e Cânone de Cauterização dos Onze Vasos Yin e Yang representam os primeiros registros estruturados sobre os vasos. Neles, são descritos onze trajetos associados à prática da moxabustão, usados como referência terapêutica. Embora esses vasos ainda não correspondam exatamente aos meridianos modernos, eles lançaram as bases para a sua posterior sistematização.
🔥 Moxabustão como Porta de Entrada para a Descoberta Energética
A moxabustão — técnica que aplica calor por meio da queima de artemísia (moxa) — provocava sensações de calor que se espalhavam por determinados trajetos. A percepção dessas sensações pode ter sido um dos primeiros indícios da existência dos canais energéticos. Os antigos nomearam esses trajetos com caracteres que refletem sua relação com a cauterização, como “脉” (mài, vaso ou pulso), sugerindo a conexão direta entre prática terapêutica e observação empírica.

⚡ Sensações Propagadas: O Corpo Fala pelos Canais
Outro fenômeno marcante é a chamada sensação propagada ao longo do meridiano, percebida ainda hoje durante tratamentos com acupuntura, moxabustão ou eletroestimulação. Pacientes relatam calor, formigueiro, dormência ou distensão que seguem um trajeto específico desde o ponto de estímulo até regiões distais. Esses relatos foram fundamentais para que os antigos médicos chineses delimitassem os percursos dos meridianos com precisão.
💡 Sugestão de imagem:
Representação moderna de uma sessão de acupuntura com os trajetos dos meridianos destacados em sobreposição no corpo do paciente.
📚 Do Huangdi Neijing à Teoria Moderna dos Doze Meridianos
A sistematização definitiva dos meridianos ocorre no Clássico de Medicina Interna do Imperador Amarelo (Huangdi Neijing), texto basilar da MTC. Lá, os doze meridianos principais são descritos em detalhes, com trajetos, funções, patologias associadas e aplicações clínicas. É provável que os conceitos descritos nesse clássico tenham sido influenciados diretamente pelos antigos textos em seda, conectando a experiência prática à formulação teórica.
🧭 Conclusão: Uma Herança de Sabedoria Corporal
A teoria dos meridianos é resultado de milênios de observação e prática clínica. Desde os rudimentares vasos descritos nos textos de seda até os meridianos formalizados no Huangdi Neijing, o corpo humano foi escutado, sentido e estudado com atenção. A moxabustão, ao permitir a percepção do calor em movimento, pode ter sido a chave para desvendar esses canais invisíveis. Compreender essa trajetória histórica nos permite valorizar ainda mais a profundidade e a riqueza da Medicina Chinesa.
Para saber mais pode consultar o artigo Huang, C., Liang, J., Han, L., Liu, J., Yu, M., & Zhao, B. (2017). Moxibustion in early Chinese medicine and its relation to the origin of meridians: a study on the unearthed literatures. Evidence‐Based Complementary and Alternative Medicine, 2017(1), 8242136.
✍️ Sobre o autor
Publicado pela equipa editorial do ASK – Saúde Integrada, este artigo faz parte de uma série dedicada à divulgação e valorização da Medicina Chinesa. O nosso compromisso é promover conhecimento acessível e cientificamente enraizado, com base em fontes clássicas e práticas clínicas atuais.
🔎 Em breve no blog ASK
Dando continuidade à nossa série sobre a Medicina Chinesa, no próximo artigo exploraremos o mecanismo explicativo da moxabustão. Faremos uma análise detalhada do estudo de Deng & Shen (2013), que investiga os efeitos fisiológicos desta técnica milenar e como ela influencia o corpo a partir da perspetiva da medicina moderna e tradicional.
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